Brasil: O pampa e o monocultivo do eucalipto
Mais de um ano depois, voltamos ao tema. A opção pelo pampa para a implantação de um megaempreendimento, capitaneado por três grandes empresas de plantação de eucalipto, fez com que o próprio Rio Grande do Sul se debruçasse sobre este importante bioma que é o pampa, para melhor conhecê-lo. Marcelo Madeira, chefe da Divisão Técnica (DITEC) da Superintendência do IBAMAS/RS, onde atua como coordenador do Grupo de Trabalho do Bioma Pampa, constata que 60% da vegetação nativa do bioma já foi suprimida.
Para proteger, minimamente, o restante do pampa, foi feito o Zoneamento Ambiental para a Silvicultura – ZAS -, que, considerando “a área do pampa stricto sensu, localizada principalmente na metade sul do estado e a oeste da Lagoa dos Patos até os limites com a Argentina e o Uruguai”, não atinge “nem 7.000 hectares, ou cerca de 0, 04% do Bioma”. “Entretanto”, constata o técnico, “estamos chegando no final de mais um ano e as autorizações e licenças continuam a ser expedidas sem a aplicação do Zoneamento”. Isso porque o ZAS não agradou às empresas de celulose e de silvicultura. Por quê? “Certamente por questões econômicas”, responde Antonio Eduardo Lanna, mestre em Hidrologia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e PhD em Gestão de Recursos Hídricos, pela Colorado State University - USA. Segundo ele, “muitas se anteciparam e adquiriram vastas extensões de terra baratas no pampa com a perspectiva de implantação de florestas de eucalipto. Correram um risco, pois na época não havia o ZAS, e não querem perder com suas apostas. Estão comprometendo ambientes de expressivo valor ambiental e cultural, e com grande potencial econômico, apenas levando em consideração o aumento de seus lucros imediatos”.
Já para a engenheira florestal Maurem Alves, indicada pela Aracruz Celulose para ser entrevistada pela IHU On- Line, “os projetos de silvicultura previstos para o estado e, em especial, o projeto da Aracruz Celulose, não vão transformar o cenário do pampa gaúcho, constituindo-se em mais uma alternativa econômica para a região”. Segundo ela, “considerando-se a conclusão da expansão de plantios prevista, a taxa de ocupação deste bioma pela Aracruz não atingirá sequer 1% do seu território. O eucalipto é proveniente da Austrália, mas não podemos esquecer que muitas outras culturas agrícolas praticadas no estado há muitos anos estão baseadas em espécies também exóticas: o gado, por exemplo, é de origem européia; a soja foi trazida da China; o arroz, da Índia, e o trigo, da Ásia Central”. Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo, não concorda, pois acredita que "não é possível manter a produtividade, conservar ou recuperar o ambiente e, ao mesmo tempo, implantar estas mega-lavouras de eucalipto para exportação de pasta de celulose”. Ele defende que a agricultura familiar, que se relaciona de modo quase simbiótico com o ambiente, é a que melhor preserva o pampa.
Também contribuem com o debate Paulo Brack, professor na UFRGS, e Glayson Bencke, da FZB. Agradecemos, de maneira especial, à preciosa contribuição da bióloga Luiza Chomenko na elaboração da pauta desta edição e na produção do artigo que abre a discussão. A Stora Enso e a Votorantim Celulose - VCP foram contatadas, mas não responderam ao pedido de esclarecimentos. A Fepam, por sua vez, igualmente procurada, optou por não se manifestar. Lady Chatterley, de Pascale Ferran, é o filme da semana. Dois poemas de Thiago Ponce de Moraes e a entrevista com Tânia Dutra, professora de Paleoecologia e Paleobotânica no PPG em Geologia da Unisinos, completam esta penúltima edição do ano.
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