Secretário da ONU afirma que políticos precisam agir para evitar catástrofes a partir das mudanças climáticas
O secretário-geral da Convenção do Clima da ONU, Yvo de Boer, disse ontem que deixar de agir para evitar as mudanças climáticas perigosas seria “criminosamente irresponsável”. A frase foi endereçada a cientistas e delegados de 130 países reunidos na Espanha para chegar a uma síntese do último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)
"A falha em reconhecer a urgência dessa mensagem e em agir seria, no mínimo, criminosamente irresponsável”, disse De Boer. “As mudanças climáticas já começaram a golpear com mais intensidade os países mais pobres e mais vulneráveis.” Segundo ele, “não atuar constituiria um ataque direto contra os mais pobres entre os pobres”.
O grupo precisa condensar, em um documento com cerca de 30 páginas, o que o IPCC descreve em mais de 2 mil: o agravamento do efeito estufa e, por conseqüência, do aquecimento global, a responsabilidade do homem no processo, as conseqüências da alteração e possíveis caminhos para remediá-la - tudo isso em uma linguagem adequada aos políticos de todo o mundo.
Um rascunho analisado pelos participantes antes da reunião explicita quais atividades humanas provocaram o aumento da temperatura do globo e indica que o corte da emissão de gases-estufa é necessário para evitar mudanças perigosas do clima. Também afirma que “o aquecimento do sistema climático é inequívoco, assim como ele é agora evidente a partir das observações feitas do aumento das temperaturas médias do ar e dos oceanos, do derretimento da neve e do gelo e do aumento do nível do mar”.
O secretário-geral adjunto da Organização Meteorológica Mundial, Yan Hong, defendeu reforçar os serviços nacionais de meteorologia, já que eventos extremos representam mais de 90% das catástrofes naturais. Os fenômenos, diz Hong, terão impacto em todos os países, mas principalmente nos menos desenvolvidos, cuja capacidade de se adaptar à mudança climática é “mais limitada”, já que dependem dos recursos naturais para sua subsistência.
IMPACTOS
Os dados científicos já foram reconhecidos pelas delegações em três reuniões que aconteceram no primeiro semestre. O que será debatido agora é a forma como serão apresentados e se algum item receberá mais atenção do que outro.
Ambientalistas acusam as delegações de tentar reduzir o peso de informações vitais para adequar o documento a suas agendas domésticas. O presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, afirmou que os cientistas estão determinados a “manter os padrões de qualidade” no último relatório.
O primeiro impacto do texto, a ser divulgado no sábado, será sentido na 13ª Conferência das Partes da Convenção do Clima, que acontecerá em dezembro. Ele será usado nos debates sobre a resposta política que os países precisam dar às mudanças climáticas.