Agricultura orgânica pode obter resultados comparáveis à agricultura convencional
Um novo estudo realizado pela Universidade de Michigan mostra que a agricultura orgânica em países industrializados pode obter resultados comparáveis à agricultura convencional, e até três vezes o rendimento obtido atualmente em países menos industrializados. Trata-se de pesquisa pioneira, que reforça os argumentos dos ambientalistas de que o mundo certamente não passaria fome se todos nós plantássemos pelo método orgânico
ANN ARBOR, Mich.— A agricultura orgânica pode render até três vezes mais, em termos de alimentos, em fazendas individuais em países em desenvolvimento, como métodos de baixa intensidade na mesma terra — de acordo com novas constatações que refutam a afirmação, que há muito tempo se faz, de que os métodos de agricultura orgânicanão podem produzir alimentos suficientes para alimentar a população global. Pesquisadores da Universidade de Michigan (U-M) descobriram que, em países desenvolvidos, o rendimento era quase igual em fazendas orgânicas e convencionais. Nos países em desenvolvimento, a produção de alimentos poderia dobrar ou triplicar usando métodos orgânicos, disse Ivette Perfecto, professora na Escola de Recursos Naturais e Meio Ambiente da U-M; e uma das principais pesquisadoras envolvidas no estudo. Catherine Badgley, cientista pesquisadora do Museu de Paleontologia, é co-autora do estudo juntamente com vários estudantes e ex-estudantes da U-M, formados e ainda por formar.
"Minha esperança é que possamos finalmente ajudar a enterrar a idéia de que não se pode produzir alimentos suficientes através da agricultura orgânica," disse Perfecto. Além de rendimentos iguais ou maiores, os autores constataram que tais rendimentos poderiam ser alcançados usando as quantidades existentes de adubos orgânicos, sem colocar em produção mais terras.
A idéia de realizar um exame exaustivo dos dados existentes sobre rendimentos e disponibilidade de nitrogênio foi impulsionada de uma forma indireta, quando Perfecto e Badgley estavam dando uma aula sobre o sistema alimentar global e visitando fazendas na região sul de Michigan. "Fomos surpreendidos pela quantidade de alimentos que agricultores orgânicos produziam," disse Perfecto. Os pesquisadores começaram juntando dados de publicações para investigar as duas objeções principais à agricultura orgânica: baixo rendimento e falta de fontes de nitrogênio aceitáveis na forma orgânica.
Suas constatações contestam esses principais argumentos, disse Perfecto, e confirmam que a agricultura orgânica é menos prejudicial ao meio ambiente e no entanto pode produzir mais alimentos do que o suficiente. Esta é uma noticia especialmente boa para os países em desenvolvimento, onde às vezes é impossível suprir alimentos de outros lugares, sendo necessário portanto que os agricultores supram o seu próprio alimento. Os rendimentos nos países em desenvolvimento poderiam aumentar dramaticamente ao fazer a conversão para agricultura orgânica, disse Perfecto.
Embora isto pareça contrariar a intuição, faz sentido porque, nos países em desenvolvimento, muitos agricultores ainda não têm acesso aos adubos e pesticidas caros que os agricultores usam nos países desenvolvidos para conseguirem rendimentos tão altos, disse ela. Depois de comparar os rendimentos de plantações orgânicas e não orgânicas, os pesquisadores examinaram a disponibilidade de nitrogênio. Para tal, multiplicaram a área agrícola atual pela quantidade média de nitrogênio que seria disponível para a produção de culturas se os chamados "adubos verdes" fossem plantados entre as estações de plantio. Adubos verdes são culturas de cobertura que são misturadas ao solo com o arado para promover a correção natural da terra. Descobriram que, plantando adubo verde entre as estações de plantio, supria-se nitrogênio suficiente para substituir os adubos sintéticos.
A agricultura orgânica é importante porque a agricultura convencional — que envolve plantas de alto rendimento, arado mecanizado, adubos e biocidas sintéticos — é muito prejudicial ao meio ambiente, disse Perfecto. Por exemplo, os adubos que contaminam a água que escoa do solo na agricultura convencional são os grandes culpados pela geração de zonas mortas — áreas de baixo oxigênio onde a vida marinha não pode sobreviver. Os que propõem a agricultura orgânica argumentam que, além disso, a agricultura convencional também causa a erosão do solo, emissão de gases de efeito estufa, maior resistência de pragas e perda da biodiversidade.
Para efeitos de sua análise, os pesquisadores definiram o termo orgânico como: “práticas denominadas como sustentáveis ou ecológicas; que utilizam processos não sintéticos nos ciclos de nutrientes; que excluem ou raramente usam pesticidas sintéticos; e sustentam ou regeneram a qualidade do solo”.
Perfecto disse que a idéia de que as pessoas passariam fome se a agricultura se tornasse orgânica é "ridícula."
"O interesse corporativo na agricultura e a forma em que as pesquisas agrícolas têm sido conduzidas em instituições que doam terra, com muita influência das empresas químicas e de agrotóxicos, além de empresas de adubos – tudo isto tem desempenhado um papel importante no convencimento do público de que se precisa destes insumos para produzir alimentos," disse ela.
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