Brasil: transgênicos puxam vendas de agrotóxicos
"As lavouras transgênicas de soja - cultura que demanda, sozinha, 48% de todos os agrotóxicos vendidos no país - são mais intensivas no uso de defensivos [agrotóxicos] do que as que não adotam a tecnologia."
Um expressivo aumento no uso de agrotóxicos no Brasil aconteceu no mesmo período em que o cultivo de transgênicos deu seu grande salto, informou o Valor Econômico em reportagem publicada no último dia 31. Desde 2005, ano em que foi aprovada a Lei de Biossegurança ( 11.105/05), a área plantada com sementes geneticamente modificadas no paí s mais do que triplicou, passando de 9,4 milhões para 32 milhões de hectares. Entre 2005 e 2001, o consumo médio de agrotóxicos saltou de pouco mais de 7 quilos por ha para 10,1; aumento de 43,2%. Segundo dados do Sindag, sindicato que representa fabricantes de agrotóxicos, citados na matéria, as vendas desses produtos aumentaram mais de 72% entre 2006 e 2012, de 480,1 mil para 826,7 mil toneladas. Esse maior uso de venenos não pode ser explicado pelo aumento da área cultivada, que no mesmo período cresceu menos de 19%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - considerando grãos, fibras, café e cana-de-açúcar.
Dos transgênicos liberados pela CTNBio, entre soja, milho e algodão, 85% são modificados para resistência a herbicidas, cujas vendas alcançaram 403,6 mil toneladas; um aumento de 44% em relação às 279,2 mil toneladas registradas em 2006. As vendas de fungicidas triplicaram e as de inseticidas cresceram quase 84%, ainda segundo a reportagem do Valor.
"As lavouras transgênicas de soja - cultura que demanda, sozinha, 48% de todos os agrotóxicos vendidos no país - são mais intensivas no uso de defensivos [agrotóxicos] do que as que não adotam a tecnologia. No Paraná, por exemplo, as lavouras com a tecnologia Roundup Ready (RR), da Monsanto, consumiram, em média, 3,6 quilos de agroquímicos por hectare, alta de 16,2% em relação aos 3,1 quilos consumidos em lavouras convencionais. A vantagem para o produtor está no manejo: nas lavouras RR, eles substituem vários herbicidas por um único produto, o glifosato, em dosagem maior.” Esse maior uso de glifosato tem acelerado o desenvolvimento de plantas resistentes, que leva o produtor a usar produtos mais tóxicos para controlá-las. No mesmo Paraná, a Secretaria de Agricultura registrou, entre 2005 e 2007, aumento de 85% no uso de Gramoxone (Paraquat) e de 52% para o Tordon (2,4-D). Lembre-se que a soja transgênica já era cultiva ilegalmente há mais tempo e fora autorizada em 2003 por medida provisória. “De todo modo, os benefícios da biotecnologia em relação ao uso de agrotóxicos nas plantações ainda são marginais”, conclui o repórter Gerson Freitas Jr. Ou seja, o benefício de fato vai para a empresa que vende o veneno.
Os dados são importantes, mas não trazem grandes novidades, pois sempre se soube que essas sementes foram criadas para puxar a venda de agrotóxicos e para justificar o patenteamento das sementes. As promessas feitas pela indústria desde a década retrasada, fortemente reproduzidas pela imprensa, durante muito tempo ofuscaram os resultados concretos da tecnologia. Como está cada vez mais difícil de maquiar esses resultados pífios, entra em cena novo lero-lero.
O representante da consultoria Céleres citado na matéria afirma que “não há contradição no aumento das vendas tanto de transgênicos quanto de agroquímicos”. Para ele, o fato é que antes se usava muito pouco agrotóxico. “Não fosse a biotecnologia, esse crescimento teria sido ainda maior”, garantiu. Já o entrevistado do Sindag falou que tínhamos “um problema de subdosagem”. O representante da Abrasem (Associação Brasileira de Sementes e Mudas) atribuiu parte do aumento à chegada da ferrugem da soja.
"A Céleres projeta, porém, que os ganhos serão mais expressivos na próxima década, com a consolidação da tecnologia e a chegada de novas variedades no país, como a soja resistente a insetos.” Melhor esperar sentado.
Fuente: AS-PTA