¿DNA-lixo?


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¿DNA-lixo?

Por Eloi S. Garcia


O que está claro com a revelação do mapa genômico do camundongo é de que o DNA-lixo deve ser suficientemente importante para ser semelhante entre o genoma humano e o do camundongo

Eloi S. Garcia é ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências. Artigo publicado em 'O Globo':

Recentemente, o Consórcio Internacional de Seqüenciamento do Genoma de Camundongo, formado por várias instituições americanas e inglesas, anunciou a elucidação sofisticada do mapa genômico (seqüência do DNA) desse animal, que é considerado o mais importante modelo para a pesquisa biológica e biomédica.

A seqüência mostra a disposição dos pares de base das letras A, T, C e G no DNA do camundongo. Qual a importância dessa revelação?

Os dados comparativos entre o genoma humano e o do camundongo servem para compreender melhor o processo de ativação e desativação dos genes.

Os camundongos são extremamente importantes como ferramentas de pesquisa, por exemplo, para investigar doenças como diabetes, síndrome de Down, asma e aterosclerose, entre outras.

Os mesmos pesquisadores que divulgaram a seqüência do genoma humano decifraram aproximadamente 96% do genoma do camundongo e mostraram que as instruções genéticas desse animal são muito semelhantes às do ser humano.

Os dados divulgados, obtidos de cerca de 33 milhões de reações químicas diferentes e analisados por milhares de horas por algoritmos computacionais por bioinformáticos, mostram que o DNA do camundongo, que tem aproximadamente 30.000 genes - 22.500 já identificados - apresenta poucas diferenças quando comparado com o mapa do genoma humano, que tem o mesmo número de genes.

Em sua maioria, os genes do roedor, espalhados em 20 cromossomas, são estruturalmente similares aos genes humanos, dispersos em 23 cromossomas. Isto não é uma surpresa.

O mais intrigante foi a revelação de que 250 mil regiões que representam o DNA-lixo (seqüência do DNA que não codifica nenhum gene) do camundongo têm seqüências similares às do ser humano.

O que isso pode indicar: o DNA-lixo está envolvido na regulação genética? Ele regula a ativação dos genes? O DNA-lixo pode representar genes que ainda não conhecemos? A natureza preserva o DNA-lixo?

O que está claro com a revelação do mapa genômico do camundongo é de que o DNA-lixo deve ser suficientemente importante para ser semelhante entre o genoma humano e o do camundongo.

No entanto foram encontradas algumas diferenças. Enquanto o DNA do camundongo tem 1,7 milhão de letras, o genoma humano tem 3,1 milhões. Isto significa que o mapa genômico do camundongo é cerca de 15% menor do que o humano. Uma das diferenças de destaque se refere aos genes relacionados ao olfato.

O camundongo tem muito mais genes conectados aos receptores do olfato. É conhecido que o camundongo tem um senso olfativo fantástico, e parece que isso se deve aos genes. Esse animal tem suas especialidades, e essas podem ser críticas para a análise das diferenças entre o homem e o camundongo.

Apesar de o artigo ainda não ter sido publicado em revista científica, análises preliminares dos genomas do camundongo e do homem confirmaram o que já era imaginado pelos biólogos: há 100 milhões de anos, camundongos e homens tiveram um ancestral comum.

Por outro lado, deve ser importante o DNA-lixo ter sido estável por 100 milhões de anos de evolução que separam o homem do camundongo. Mas isso não é nada se comparado com o código de informação genética que vem de uma evolução de mais de três bilhões de anos de estruturas similares ao que chamamos hoje de células.

Em abril do próximo ano serão comemorados os 50 anos do aniversário da descoberta da estrutura helicoidal do DNA por Crick e Watson. Até lá teremos mais clareza do que representa e de como é controlado nossos genes. Já sabemos, por exemplo, que não é verdade a idéia de quanto mais sofisticado for um animal, mais genes ele possui.

A complexidade de um organismo vem do modo como seus genes interagem. Quanto mais mapas genômicos tivermos, mais próximos estaremos das moléculas individuais e suas interações. Mas há mais mistérios no ar do que contempla a nossa vã filosofia.

(O Globo, 22/5)

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