Brasil perdeu o controle sobre soja transgênica
Prensa
Jornal da Ciência, Internet, 21-3-02
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Brasil perdeu o controle sobre soja transgênica
Roberta Jansen escreve para 'O Globo'
Relatório da Comissão de Defesa do Consumidor e do Meio Ambiente da Câmara dos Deputados apresentado este mês mostra que o Brasil praticamente não fiscaliza as plantações irregulares de soja geneticamente modificada, que crescem a cada dia.
Estima-se que, nos estados do sul do país ? os maiores produtores nacionais de soja ?, o plantio ilegal varie de 25% a 30% da produção, o que poderá causar problemas com os maiores importadores do produto ? Europa e Ásia ? que rejeitam os transgênicos.
O relatório, de autoria do dep. Fernando Ferro (PT/PE), mostra que os três ministérios que deveriam cuidar do problema (Agricultura, Meio Ambiente e Saúde) não têm mão-de-obra especializada, recursos financeiros e vontade política para tratar da questão.
'No que se refere aos plantios ilegais, julgamos que o Ministério da Agricultura tem sido omisso e atuado de forma absolutamente deficiente para coibir ou diminuir a magnitude do problema. Tem atuado apenas mediante denúncia, não tendo estabelecido um programa de fiscalização centrado na vontade política de coibir os plantios ilegais', diz o relatório.
O documento mostra ainda que a comercialização da soja transgênica ? também proibida por lei ? tampouco é coibida. 'Caberia ao órgão fiscalizador da saúde organizar-se para impedir a comercialização desses produtos.
Entretanto, a idéia de que 'isso não é tão grave', que perpassa a maioria dos órgãos do poder executivo, faz com que a fiscalização aja apenas nos casos denunciados.' O relatório aponta também a necessidade de se criar uma política nacional de biossegurança antes da aprovação da lei que libera o plantio e a comercialização da soja modificada.
'Não há comprovação de que a soja transgênica faça mal à saúde, mas o que está em discussão é que precisamos ter normas para acompanhar a introdução desse e de outros produtos geneticamente modificados no mercado. Se liberarmos a soja sem isso, abre-se um precedente para que se libere uma série de outros produtos que podem causar problemas', avaliou o pesquisador Sílvio Valle, coordenador dos cursos de biossegurança da Fiocruz.
Estudo de Ralf Karly, da PUCParaná, levanta ainda outra questão: a soja transgênica não necessariamente baixaria os custos da produção.
Em geral, o valor das sementes modificadas é 29% mais alto, mas o gasto com os herbicidas seria 39% menor, o que compensaria a introdução dos transgênicos. O estudo de Karly mostra, no entanto, que, no Brasil, a soja transgênica é até 100% mais cara que a tradicional e o custo do herbicida é apenas 10% menor.
'Os grandes mercados compradores de soja do Brasil não aceitam a soja transgênica. Por não plantarmos soja modificada, temos grande vantagem em relação aos EUA e à Argentina. Por que vamos nos arriscar a perder esse mercado?, pergunta o engenheiro agrônomo paranaense Luiz Carlos Balcewicz.
'Isso sem falar no mercado de carne de frango e boi. Se esses animais forem alimentados com grãos transgênicos, podem não ser aceitos em alguns países', acrescentou.
Professor de genética da Universidade Federal de Santa Catarina, Rubens Onofre Nodário acredita que, já a partir deste ano teremos problemas de rejeição da safra. De acordo com ele, estima-se que um terço da soja do Rio Grande do Sul é de transgênicos.
'Em 2001, a Europa estabeleceu normas rígidas: no máximo 1% da safra pode ser transgênica. Algumas cargas vão retornar', diz Nodário.
Nesta quarta-feira, o delegado substituto do Ministério da Agricultura e do Abastecimento no Paraná, Scylla César Peixoto Filho, disse que cultivo de soja transgênica já fugiu ao controle das autoridades no Paraná e em todo o país.
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